Meu nome é Luisa, mas pode me chamar de Lu! Tenho 30 anos e desde que aprendi a escrever colecionei diários, daqueles que tinham a capa fofinha, cheiro de tuti-fruti e um pequeno cadeado. Meus primeiros journals (ou diários) são de 2000, onde eu escrevia sobre meu dia na escola, o passeio com meus pais, e até meus sentimentos em volta do nascimento do meu irmão. Era um lugar em que eu, inconscientemente, colocava minhas observações e emoções para fora, como se escrevesse para uma melhor amiga.
Naquela época e por todos os anos que se seguiram, eu não fazia ideia de que o que eu estava fazendo era uma forma de terapia. Eu só sabia que eu me sentia mais calma e mais segura quando colocava no papel todos os meus pensamentos confusos da minha mente. Assim, tive períodos em que escrevia mais, e outros em que não escrevia nunca. Escrevi em cadernos, no computador, no bloco de notas do celular, e eventualmente comecei a escrever no meu Instagram.
No início de 2019 tive uma recaída do meu transtorno alimentar. Foram os meses mais difíceis e vulneráveis da minha vida, no qual eu me sentia tomada pela minha dor, e completamente sozinha nela. Foi assim que peguei um caderno e uma caneta e comecei a colocar para fora. Nada fazia muito sentido, mas escrever era catártico. Eu me sentia mais calma, menos sozinha, mais acolhida. Eu podia escrever meus pensamentos mais bizarros e ninguém iria julgá-los, nem eu mesma, o que era surpreendente já que fora do papel eu era a pessoa mais auto-crítica que conhecia.
Escrever naquele caderno me deu clareza da gravidade do meu estado atual, de como aquilo estava afetando não só a minha vida, como a de ao meu redor, e foi um dos pilares que me impulsionou a buscar um tratamento especializado numa clínica com psicóloga e nutricionista. Durante o tratamento, levei meu journal para cada uma das sessões, com ambas as profissionais, e lia algumas das passagens que havia escrito durante a semana.
A escrita terapêutica fora das sessões era uma extensão da terapia, que me ajudava a ir mais fundo, voltar para cada sessão com novos insights, explorando com curiosidade e muito mais delicadeza, cada lado obscuro que eu encontrava dentro de mim.
Em 2020, com a pandemia tive que parar o acompanhamento psicológico (já estava em remissão), mas não parei de escrever. E escrever durante um dos períodos mais loucos da humanidade me manteve centrada, segura e confiante, de modo que não tive nenhum relapso em relação ao meu transtorno alimentar, e mantive minha ansiedade em níveis incrivelmente baixos se comparado ao meu histórico.
Eu acredito no poder das palavras, eu acredito na força de transcrever pensamentos para o papel, e eu sei o quanto isso mudou (e continua mudando) a minha vida. Eu nunca paro de aprender e questionar sobre mim e sobre o mundo, e escrever me mantém curiosa, sincera e criativa. Essa é a minha missão, tornar o máximo de pessoas possíveis, mais curiosos, mais sinceros, mais vulneráveis e mais gentis consigo mesmo através da escrita terapêutica.
Hoje divido todos os conselhos que ainda preciso escutar nas minhas redes sociais no Instagram e TikTok @behappy.lu, além do podcastNotas de Rodapé(para não surtar), que surgiu baseado nas anotações das páginas de antigos diários.